Serão os seres humanos meros mecanismos complexos? Para abordar esta questão, vamos explorar uma das escolas psicológicas mais influentes: o behaviorismo.

A jornada para explicar o comportamento humano é milenar. Pensadores e pesquisadores debateram se somos guiados por forças metafísicas, processos intrínsecos ou nossos ambientes. Originado no início do século XX, o behaviorismo defende que o comportamento é moldado exclusivamente por influências externas, podendo ser modificado para alcançar resultados desejados, deixando de lado a riqueza interna da experiência humana.

O behaviorismo influenciou significativamente a psicologia moderna, a educação, a gestão, o marketing e até as interações humano-computador. Com os avanços recentes em IA, a questão de se o comportamento humano não passa de um mecanismo maleável torna-se cada vez mais pertinente.

Behaviorismo: O Reflexo Psicológico da Era Industrial – Simplicidade, Praticidade e Controle”

O comportamento humano é um complexo amalgama de emoções, normas culturais e experiências. Cada decisão tomada, cada ação empreendida, parece ser alimentada por uma interação quase impossível de compreender. A pesquisa, contudo, não se conforma em aceitar o mistério do comportamento humano.

Antes do behaviorismo, a psicologia era dominada por ideias abstratas sobre a mente. Psicólogos da época analisavam os blocos de construção das experiências da consciência – sensações, percepção e sentimentos. Outros adotaram uma abordagem ligeiramente diferente, observando o comportamento no contexto da evolução, tentando entender como certos comportamentos nos favoreceram no jogo da seleção natural. No entanto, todos esses métodos estavam ligados pelo frágil fio da subjetividade: quase impossíveis de testar experimentalmente, ficavam à mercê de mentes brilhantes para ponderar e debater.

Então surge o behaviorismo, que fez do comportamento observável a estrela do espetáculo, relegando os processos mentais às sombras. Logo, sua metodologia científica e objetiva conquistaria a academia.

Para compreender como essa mudança drástica ocorreu, precisamos espiar por trás das cortinas e mergulhar na socioeconomia da época. O início do século XX foi um período de mudanças, onde o crescimento da industrialização e urbanização criou uma demanda abrangente por praticidade. Com a invenção das máquinas, surgiu um certo fascínio por ver o comportamento como mais um mecanismo. Simplificado e decomposto em partes compreensíveis, ele se encaixava quase perfeitamente nos frameworks reducionistas, deterministas e previsíveis da era.

Behaviorismo e o Conceito do Homem como Tábua Rasa

“Conceda-me uma dúzia de infantes saudáveis e bem formados, e um mundo especificado por mim para criá-los, e eu garanto que posso treinar qualquer um deles para se tornar qualquer tipo de especialista que eu escolher – médico, advogado, artista, chefe de comércio, e sim, até mesmo mendigo e ladrão, independentemente de seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e raça de seus antepassados.”

Esta citação de John B. Watson, o pai do behaviorismo, inaugurou uma nova era na psicologia. Watson foi o primeiro a declarar que a psicologia deveria focar exclusivamente no comportamento observável, abandonando completamente o estudo da consciência e dos processos mentais. Ele acreditava que os seres humanos nasciam como tábuas rasas, potencialmente capazes de se tornar qualquer coisa, se as circunstâncias fossem adequadas.

Watson tentou provar esse conceito com o experimento “Pequeno Albert”, onde apresentou a um bebê de nove meses, Albert, vários animais: um rato branco, um coelho e um macaco. Como as crianças tendem a ser destemidas e ingênuas, o menino não tinha medo dos animais. Watson começou então a associar a apresentação do rato com um ruído alto e perturbador. Rapidamente, o pequeno Albert começou a chorar ao ver o rato, mesmo na ausência de qualquer barulho. Watson conseguiu manipular o comportamento humano apenas através de fatores ambientais.

É perturbador pensar que, com controle suficiente, podemos moldar uma criança em um produto de nossa escolha. De repente, o ser humano pensante e respirante se transforma em uma máquina com um painel de controle.

Esses tipos de experimentos parecem perpetuar a ideia de humanos como seres sem livre-arbítrio; em outras palavras, eles nos conduzem a uma visão determinista do comportamento humano. Tudo o que seremos ou faremos é apenas uma continuação lógica de quem somos agora. Nenhuma de nossas escolhas ou sentimentos importa porque não existe algo como agência real – apenas uma coleção de circunstâncias. E cabia aos behavioristas encontrar essas circunstâncias.

Behaviorismo e a Primazia do Comportamento Observável

Os behavioristas se empenharam em redefinir o comportamento, demonstrando que, por mais complexo que fosse, poderia ser decomposto em partes menores, observáveis e compreensíveis. Eles viam os seres humanos como respondentes passivos ao seu ambiente, acreditando que pensamentos e emoções são apenas subprodutos superficiais e não direcionadores de ações. Para provar esses conceitos, conduziram experimentos onde controlavam diferentes circunstâncias ambientais e registravam mudanças no comportamento.

Em um desses experimentos, realizado por Albert Bandura, crianças assistiam a um vídeo de adultos brincando agressivamente com uma boneca. Conforme esperado, as crianças replicavam esse comportamento ao ver uma boneca semelhante. Esse experimento descobriu o conceito de aprendizado observacional com uma premissa simples: crianças repetem o que veem.

No entanto, o verdadeiro aprendizado não é um simples “copiar” e “colar”. As crianças precisam saber se certos comportamentos são bons ou ruins. Assim como queimaduras ensinam nosso cérebro a evitar o fogo, precisamos associar comportamentos a resultados “bons” ou “ruins” para perpetuá-los ou dissuadi-los. Esse processo de vinculação de comportamentos a associações positivas ou negativas é chamado de condicionamento, como demonstrado em um dos experimentos mais populares do movimento behaviorista – os cães de Pavlov.

Pavlov treinou seus cães para salivar por comando. Ele associou a oferta de comida ao som de um sino. Inicialmente, os cães se excitavam apenas ao ver a comida, mas após algumas repetições, começaram a salivar apenas com o som do sino. E voilà – um novo comportamento aprendido! Mais tarde, Skinner descobriu que, ao ajustar a frequência e o momento das recompensas, ele poderia obter mais controle sobre o comportamento desejado. Isso significava que, através da análise cuidadosa e manipulação do ambiente, os comportamentos de fato poderiam ser moldados para os resultados desejados.

Esses e muitos outros experimentos behavioristas mostraram o aspecto funcional do comportamento: fazemos coisas que associamos a algum tipo de recompensa. Mas mesmo com essa premissa, como poderiam ignorar tudo o que nos faz humanos: cada pensamento complexo, cada discrepância, cada ato gratuito? O desejo por um resultado “bom” dos comportamentos ainda não estava diretamente relacionado às emoções? Esse enfoque reducionista não era mais do que cinismo? A resposta curta é não. O foco no comportamento observável não negava necessariamente a existência dos processos mentais subjacentes que, por exemplo, possibilitavam o condicionamento. Em vez disso, o behaviorismo colocava a consciência em uma caixa preta. Não importava por que e como as engrenagens giravam, desde que a saída fizesse sentido. O problema, contudo, é que a ciência não gosta muito de caixas pretas.

Críticas ao Behaviorismo: Perspectivas Cognitivas e Humanistas

Como toda teoria revolucionária, o behaviorismo convidou críticas desde o início. O escrutínio acadêmico inicial concentrou-se em suas visões reducionistas. Séculos de antropocentrismo consolidaram a visão de que os seres humanos mereciam ser colocados em pedestais dourados; como, então, poderiam ser equiparados a criaturas simples, como os cães?

Uma onda maior de críticas surgiu com a revolução cognitiva dos anos 50, quando psicólogos finalmente espiaram dentro da “caixa preta” da mente. Eles ressuscitaram a riqueza interna da experiência humana na forma de percepção, atenção e memória, empregando todos esses termos para explicar o comportamento.

A segunda rodada de críticas não demorou a seguir. Desta vez, a psicologia humanista, armada com emoções, empatia e compreensão, exigiu justiça para as experiências subjetivas. Como o próprio nome sugere, esse movimento colocou a singularidade da experiência humana em primeiro plano. Mais uma vez, os seres humanos foram vistos como agentes livres com capacidade para crescimento pessoal e auto-realização.

Essas críticas apontavam para uma lacuna significativa na abordagem behaviorista: a negligência dos processos cognitivos e emocionais internos que são fundamentais para a compreensão plena do comportamento humano. Enquanto o behaviorismo se concentrava em estímulos e respostas observáveis, a psicologia cognitiva e humanista realçava a importância dos processos mentais e da experiência subjetiva na modelagem do comportamento.

Assim, enquanto o behaviorismo proporcionou uma estrutura útil para entender certos aspectos do comportamento humano, ele não conseguia abarcar a complexidade total da mente e experiência humana. A evolução da psicologia, portanto, exigia uma abordagem mais holística, que reconhecesse tanto os aspectos observáveis quanto os internos do comportamento humano.

O Behaviorismo Moderno e Seu Legado Duradouro

Apesar de toda a análise crítica, o behaviorismo não desapareceu. Ao contrário, em uma reviravolta irônica, ele se moldou à luz das circunstâncias em mudança.

Uma dessas adaptações foi a fusão com a psicologia cognitiva, resultando no nascimento do behaviorismo cognitivo. Abraçando o melhor de ambos os mundos, os psicólogos demonstraram que as pessoas não apenas respondem a estímulos externos, mas também processam informações internamente. Atualmente, os behavioristas cognitivos buscam entender como pensamentos, crenças e atitudes contribuem para o comportamento e utilizam esse entendimento para desenvolver intervenções que mudem comportamentos prejudiciais.

Isso mais tarde deu origem à terapia cognitivo-comportamental (TCC), amplamente utilizada atualmente. Em sua essência, a TCC relaciona os pensamentos e sentimentos da pessoa ao seu comportamento. Sua premissa central — de que pensamentos e crenças negativas podem levar a emoções negativas e comportamentos mal-adaptativos — permite aos terapeutas rastrear e redirecionar os padrões de pensamento dos pacientes, melhorando assim sua saúde mental e bem-estar.

Compreende-se, em retrospectiva, por que os behavioristas iniciais descartaram a riqueza interna da experiência humana: ela simplesmente não é quantificável. Os pesquisadores da época não tinham como aplicar métodos científicos ao estudo da “mente”. Não havia nada para medir e nenhum fator para influenciar, deixando a “reflexão” como a única fonte para novas teorias essencialmente não testáveis. Assim, optaram pela alternativa razoável: focar no comportamento observável em todo o seu apelo racional.

A mudança veio com o surgimento da neurociência. Essencialmente, as ferramentas neurocientíficas nos permitem ver diretamente na alma mater da mente: o cérebro. Com equipamentos totalmente novos, os pesquisadores agora não só conseguem medir processos no cérebro, mas também influenciá-los até o nível molecular. Usando métodos behavioristas quase centenários, os neurocientistas modernos correlacionam o comportamento observável com os processos cerebrais, aproximando-se cada vez mais da compreensão da poderosa mente.

Fonte: The Collector
Referência: Watson J. B. (1924). Behaviorism. People’s Institute Publishing Co.

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