Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso (com um nome desses, precisava de um apelido), foi um sujeito bastante inteligente. Nasceu na suíça em 1493 e foi responsável por algumas das noções mais elementares que temos hoje na medicina. Mas ele foi muito mais que médico. Dizem que era também filósofo, físico, astrólogo, botânico e ainda tinha um pezinho no ocultismo.

Nós psicólogos, de certa forma, devemos muito a ele. É que segundo estudos contemporâneos, foi ele o primeiro indivíduo a supor, com base em observações, que as doenças físicas poderiam ter suas raízes em determinadas condições psicológicas.

Mas Paracelso ficou famoso mesmo foi por cunhar uma frase, baseada em seus estudos toxicológicos, que é hoje usada para construir analogias e metáforas no mundo inteiro:

“A diferença entre o remédio e o veneno, é a dose.”

De fato, uma vacina nada mais é do que a doença injetada em uma dose tal que faça o corpo despertar anticorpos a ponto de reagir e, por sua vez, eliminar a própria doença.

Se a vacina for fraca demais, não funciona. Forte demais, ela pode matar.

Agora, o mais interessante é que, embora tenha sido elaborada no contexto da toxicologia, esta frase representa uma verdade universal:

“Cuidado de menos te deixa exposto, cuidado demais te paralisa.”

A psicologia, como ciência e prática profissional voltada à promoção de saúde das pessoas, é séria e cuidadosa em relação ao que entende serem preceitos éticos. Para isto até construiu um código especial destinado a nortear o comportamento daqueles que falam e agem em seu nome.

O código, não se discute, é bom e necessário. Já a interpretação que muitos fazem dele, infelizmente não.

Eis aqui o paradoxo:

Embora o código de ética não impeça, em momento algum, o psicólogo de divulgar seu trabalho – na verdade ele até frisa a importância de promover saúde – a cultura geral que se formou entre os profissionais da área é a de que nada pode, se não o Conselho vai punir.

Fazer autopromoção, dar publicidade a seu trabalho, buscar ativamente estar em evidência, fazer marketing deliberadamente, todos estes são comportamentos vistos, no geral, com maus olhos. Há inclusive professores que dizem – com uma segurança que chega a emocionar – que “bom psicólogo não tem nem cartão”.

Eu não sei exatamente de onde vem este pavor e preconceito que grande parte dos psicólogos tem com a divulgação. Mas o fato é que ele existe e norteia fortemente a atuação de muitos profissionais.

Os defensores desta visão – da não publicidade  com serviços de psicologia- chamam isso de ética.

Eu chamo de exagero e irresponsabilidade.

Mas no fundo confesso que consigo entender perfeitamente o raciocínio por trás da resistência. Ele pode ser definido por uma palavra:

Zelo.

E isso é bom. Em poucas classes profissionais se vê uma preocupação tão legítima com o respeito ao cliente quanto na psicologia. Na verdade, grande parte da atuação de nosso Conselho é no sentido de “proteger a sociedade de maus profissionais”.

Pois bem. Zelar é bom e necessário.

Mas em alguns casos, em nome de não ser fazer o mal, acaba-se por diminuir as possibilidades de se fazer o bem. É quando o remédio começa a virar veneno.

E a psicologia, senhoras e senhores, está intoxicada.

Publicidade Conectiva

Um dos pontos “chave” que ensino em meu curso, Empreendedorismo para Psicólogos, é o conceito de dar publicidade a seu trabalho com base nos resultados que ele pode gerar.

Funciona assim: em vez de mostrar apenas os aspectos técnicos do processo, é mais adequado se falar em melhoria, desenvolvimento, crescimento, pois isso gera uma conexão mais profunda com as pessoas.

Entre os psicólogos, mesmo os poucos que ousam aplicar uma pegada mais “publicitária”  em seu trabalho, costumam fazer isto evidenciando técnicas e processos, e não os resultados esperados.

Mas vamos exemplificar que fica mais claro. Veja aqui  alguns exemplos de divulgação com base em processos e técnicas. (Os nomes são hipotéticos)

  • Cartão de vistas: “Paulo Gonçalves| Psicoterapia Comportamental Cognitiva| CRP…”
  • Anúncio de Jornal: “Clínica Bem Viver – Psicoterapia e orientação vocacional| Juliana Ferreira CRP … Márcia Delgado CRP
  • Texto de Website: “Psicoterapia para casais, abordagem fenomenológica. A abordagem fenomenológica é….”

O que há de comum nestes três anúncios aí em cima?

Eu te digo:

Eles são técnicos, frios, sem graça, sem emoção. Não dizem nada, não remetem a nenhum estado de melhoria, não evidenciam nenhum possível resultado. Na melhor das hipóteses, fazem referência a um processo ou técnica/teoria; na pior, assustam.

Agora vejamos exemplos como seriam estes anúncios dentro da lógica que proponho:

  • Cartão de Visitas: “Crianças emocionalmente inteligentes, adultos tranquilos e um mundo melhor | Joana Rodrigues, Psicóloga CRP…”
  • Anúncio de Jornal: “Viver é mais do que existir! Você sabe o que um psicólogo pode fazer por você? Venha descobrir conosco!” (E a foto de uma pessoa de bem com a vida)
  • Texto de website: “Já imaginou como seria seu casamento se vocês conseguissem dialogar de forma mais saudável e inteligente? Você sabia que muitas vezes os problemas…”

Eis aí três anúncios que, em minha opinião, são muito mais adequados para despertar o interesse do público.

Umas das razões é que eles não fazem menção ao processo técnico, já que o cliente, em 99% das vezes, não entende tecnicismos e até se assusta com isso. Outra razão, e talvez a mais importante, é que são anúncios mais humanizados, que necessariamente remetem a um possível estado de crescimento e melhoria.

Este é um tipo de anúncio que faz o leitor pensar: “É mesmo, isto poderia ser interessante na minha vida”, ao passo que os anúncios anteriores, por não remeterem a nenhum tipo de resultado, não geram conexão.

E é justamente aqui que a coisa pega.

Embora eu considere este ultimo bloco de anúncios mais adequado, alguns “defensores da ortodoxia”, dizem que na verdade eles são exagerados – talvez sensacionalistas- e que podem induzir o sujeito a procurar o profissional.

Um dos principais argumentos é: você não pode dar garantias de que as pessoas ficarão mais felizes. Também não pode fazer a ilação de que crianças emocionalmente saudáveis serão adultos mais tranquilos, ou de que o casamento vai ficar mais satisfatório após um processo psicoterápico… e com este tipo de anúncio, as pessoas podem acabar interpretando isso.

Tenho que reconhecer, é um ÓTIMO argumento.

Mas deixe-me, com todo respeito, tentar desconstruí-lo aqui. (Se quiser beber água é agora, estamos engrenando)

Garantias, Convicção e Segurança Técnica

Embora certas ideias minhas possam ser estranhas a alguns psicólogos, creio que todos concordamos em um ponto:

A psicologia é uma ciência.

É uma ciência construída ao longo de décadas, que tem abordagens diversas, é verdade, mas que possui práticas, processos e ferramentas de intervenção exaustivamente testados e comprovados ao redor do mundo

Aliás, se não houvesse uma correlação comprovada entre os modelos de intervenção da psicologia e seus resultados, ela não poderia ser chamada de ciência.

Por isso mesmo, me horroriza profundamente ver pessoas – psicólogos – tratando a psicologia como se ela fosse algum tipo de astrologia ou “achismo”. Gente que tem medo de apontar os benefícios de seu trabalho por que parece não acreditar neles.

Deixa eu te dizer uma coisa:

Se você não confia plenamente em sua capacidade de gerar resultados com seu trabalho, você não deveria sequer oferecê-lo.

Quando você ousa sustentar publicamente o título de psicólogo, o mínimo que espero é que você tenha total segurança técnica a respeito do trabalho que vai oferecer. ?E isso não tem absolutamente NADA a ver com garantias.

Quando você faz, por exemplo, um anúncio como este:

“Crianças emocionalmente inteligentes, adultos tranquilos e um mundo melhor!”  Você não está dando garantias de nada.

Mas aí você pode dizer:

“Mas num anúncio assim você pode dar a impressão de estar dizendo que, se os pais levarem os filhos até você, eles provavelmente se tornarão crianças emocionalmente mais inteligentes e, consequentemente, adultos mais tranquilos.”

Claro que sim. E na verdade este é o objetivo. Só que não há nada de ilegítimo e mentiroso nisso.

Deixe-me usar uma analogia que fica mais fácil de entender. Eis o seguinte anúncio de uma escolinha de esportes infantil:

“Crianças que praticam esportes. Adultos saudáveis e um mundo melhor”

O que você me diz deste anúncio? Ele é mentiroso? Sensacionalista?

Que garantias eu tenho de que, se meu filho praticar esportes, ele vai ser um adulto saudável? Aliás, que garantias eu tenho de que os profissionais desta instituição sabem conduzir atividades esportivas com qualidade?

Absolutamente nenhuma.

Ainda assim, o objetivo do anúncio é, necessariamente, estabelecer esta correlação.

E isto não é um problema, por que o que dá sustentação à publicidade aqui não são garantias, é segurança profissional com embasamento científico.

Da mesma forma que a educação física é uma ciência voltada à promoção de saúde física (Ohhh..) , a psicologia é uma ciência voltada à promoção de saúde emocional. Ambas são suportadas por um extenso, vasto, gigantesco corpo de conhecimento científico que se evidencia em estudos publicados aos quatro cantos.

Só que, em função de uma cultura muito particular, os psicólogos parecem desconsiderar isto e passam a dizer que não se pode falar em “benefícios e resultados” sob o pretexto de não haver certezas.

Ora, certeza a gente só tem de que vai morrer um dia. A verdade é que se você for aplicar este tipo de escrutínio semântico a tudo que se apresenta, o mundo inteiro passa ser uma enganação. Quer ver?

  • Venha passar suas férias na Bahia, você vai adorar! (Quem garante? E se eu achar uma m…?)
  • Venha malhar conosco, sinta-se melhor e aumente sua expectativa de vida. (Quem garante gente? Posso torcer o pé e me sentir pior. Aliás, posso até morrer amanhã.)
  • Prove nossa deliciosa moqueca de badejo ao molho de camarões! (Deliciosa? Segundo quem? Você me garante?)
  • Cuide de seus dentes, um sorriso saudável abre portas! (Abre mesmo? Me explica isso melhor…)

Consegue notar?

Estes anúncios aí em cima, todos focados em conexão emocional e vislumbre de benefícios, são considerados normais, mesmo quando tratam de saúde, como é o caso da educação física e da odontologia.

Mas quando a coisa é com a psicologia, aí não pode.

O problema é cultura.

Claro que nem todos que forem à Bahia vão gostar. Óbvio que eu posso malhar e mesmo assim não aumentar minha expectativa de vida. Bem possível que a tal da moqueca não me agrade, e mais possível ainda que, mesmo com dentes lindos de morrer, nenhuma porta se abra para mim.

Mas é preciso ser muito espírito de porco para achar que isso invalida a legitimidade destes anúncios, pois exceções existem em qualquer lugar.

Eis o ponto em que desejo chegar:

O fato de você não poder garantir que 100% por cento de seus pacientes evolua, não é razão para você deixar de divulgar os benefícios e resultados esperados de seu trabalho.

Vamos fazer uma conta. Digamos que, de cada 10 pacientes seus, 2 não consigam, por razões diversas, evoluir em suas questões e apresentar alguma melhoria durante o processo. Isso é 20% do total.

A maior parte, 80%, apresentou resultados.

Agora me diga:

Você vai planejar sua comunicação em cima dos 80% que apresentaram resultados ou em cima dos 20%, que são a exceção?

Pois muitos psicólogos parecem pensar que, se houver uma mínima chance de que, em mil pessoas, UMA não consiga evoluir, não se pode falar em benefícios.

Com todo respeito, isso é ridículo.

Você não coloca um serviço no mercado com foco maior no que pode dar errado, você coloca pensando no que pode dar certo e se respalda em conhecimento científico para isso. Se a psicologia, em geral, não está convicta de que seus métodos funcionam – mesmo com exceções – ela não poderia nem se propor a tratar alguém.

O fato de existirem casos de fracasso em seu trabalho não é motivo para você deixar de acreditar que ele apresenta resultados, e que estes possíveis resultados devem ser mostrados ao público. Só por que os resultados não são “garantidos” isso não quer dizer que eles não são a praxe.

Mas aí você psicólogo, preocupado que é, pode dizer: “Ah, mas por via das dúvidas, prefiro não anunciar benefícios e ficar quietinho, discreto.”

E é aqui que eu volto à questão colocada no início do artigo, para entrar na reta final de meu argumento.

Remédio Demais é Veneno

Ao contrário dos personal trainers e coaches da vida, nós psicólogos não costumamos ter uma fama muito positiva. Somos fortemente associados a doenças, patologias e loucura.

Fazer coaching é símbolo de status, contratar um personal trainer é sinal de boa consciência. Mas se você vai ao psicólogo, opa, alguma coisa não está bem.

As pessoas têm vergonha.

E por terem vergonha, não vão. Por não irem,  muitas deixam de crescer emocionalmente e várias adoecem.

Agora junte a imagem extremamente negativa que a psicologia tem em relação ao público leigo, com a quase total falta de divulgação de seus benefícios através de campanhas e anúncios com viés emocional, e temos o quadro vigente na sociedade de hoje:

A moça prefere comprar uma calça Jeans de R$350,00 do que investir em sua saúde emocional. O rapaz tem um corpo escultural, pois malha todo dia, mas a cabeça está um lixo. O recém divorciado resolve adquirir um pacote caríssimo para o Caribe, a fim de sanar sua ferida emocional. A mulher de meia idade resolveu se alimentar melhor, comendo “organicamente”, mas não sabe digerir os imprevistos da vida.

As pessoas investem em tudo, mas não investem no psicólogo. E não investem por que não entendem o que fazemos. E por sua vez, não entendem por que nós não comunicamos isto de forma inteligente e envolvente…

E nós não comunicamos de forma mais envolvente usando o argumento de que não podemos dar garantias.

Foi assim que o remédio se transformou em veneno.

Em nome de sermos éticos e não darmos “possíveis”  falsas esperanças a alguns, perdemos a chance de gerar reais benefícios a muitos outros. Sob o argumento de que “tal comunicação pode fazer esta pessoa imaginar que vai ter resultados”, abrimos mão de verdadeiramente gerar resultados na vida de muitas outras.

Isto é bizarro. É como alguém que, de tanto ter medo de morrer, não vive.

E é preciso viver.

A psicologia precisa, institucionalmente, assumir de vez o papel de educar as pessoas para o cuidado com a saúde emocional. Nossos Conselhos, que são tão preocupados com o social, parecem esquecer que promover a psicologia como um serviço cujo consumo é benéfico, é também uma questão de saúde pública.

As pessoas hoje sabem fazer tudo, o que elas não sabem é conviver e lidar com as próprias emoções.

Será que nós vamos mesmo olhar pra isso tudo, do alto de nossa sabedoria e dizer: “Que venham por conta própria, não nos cabe conscientizar”. (?)

Será que nosso papel como psicólogos, tanto quanto tratar, não é também o de educar as pessoas para que cuidem melhor de sua saúde emocional?

Todas as mudanças e evoluções que o mundo tem experimentado acontecem por meio da educação. Foi assim com a higiene do corpo, foi assim com a prática de exercícios, é assim com a alimentação saudável, por que não pode ser assim com a saúde psíquica?

E aqui entra uma questão ideológica fortíssima, que é o derradeiro tópico deste artigo. (Por que, vamos combinar, já ficou grande demais). 🙂

O Demoníaco Mundo Capitalista.

Todo mundo sabe que a psicologia no Brasil é uma área de conhecimento fortemente influenciada por uma perspectiva de inclusão e cuidado com o social.

E isso é muito bom!

Só que eu não acredito que esta abordagem esteja sendo feito da forma mais inteligente possível.

Eis a questão:

Por abominarem completamente a lógica do capital, muitos psicólogos acham que inserir a psicologia dentro dela, como um produto, é o maior dos sacrilégios sobre a face da terra. Esta é, de fato, uma das linhas de pensamento por trás de toda a postura de “não publicidade” que vemos ser espalhada em nosso meio. Afinal, a publicidade é praticamente um símbolo do capitalismo.

Só que esta visão, embora faça todo sentido conceitualmente, se mostra contraproducente na prática, e eu explico meu ponto:

Nós vivemos em uma sociedade orientada para o consumo. Um consumo bobo, desenfreado e maléfico. As pessoas, desde o momento em que nascem e abrem os olhos, são praticamente programadas para comprar. E elas vão comprar.

Vão comprar o que que precisam, o que não precisam e até mesmo o que faz mal a elas. Roupas, celulares, viagens, carros, baladas, joias, comida cara, perfume importado, pé de frango gourmet, nomeie o que quiser.

Elas vão comprar MUITO.

Vão comprar por que foram ensinadas a isso, e também para preencher o enorme vazio que existe em suas vidas como consequência deste modus vivendi bizarro produzido pela sociedade de consumo.

Ok, constatado isso, eu te pergunto:

Em termos gerais, é melhor uma pessoa gastar três mil reais no mais novo iPhone ou investir este mesmo valor em um processo psicoterápico de qualidade?

Será que esta pessoa, consumista que é, ao começar a tomar contato consigo durante o processo de psicoterapia, não se tornará mais segura, congruente, alinhada, e assim passará a consumir menos para preencher a vida?

Não sei se existem estudos sobre isso, e vou procurá-los. Mas considero razoável supor que, quanto mais equilibrada emocionalmente uma pessoa estiver, mais ela irá valorizar o “ser” em detrimento do “ter”.

E isso me faz a levantar uma hipótese que provavelmente vai causar calafrios na espinha de muita gente:

Transformar a psicologia em um produto de consumo, talvez seja, ironicamente, uma forma inteligente de criar uma sociedade mais saudável e menos consumista.

Atenção, eu não estou propondo uma “psicologização” da vida, como se um psicoterapeuta fosse algo obrigatório. Também não vislumbro um paraíso na terra através de uma espécie humana subjugada por uma ciência do comportamento. Estou simplesmente propondo que coloquemos os benefícios do nosso trabalho na vitrine, ao lado daquele iPhone, para as pessoas se darem conta de sua existência e poderem avaliar, de maneira sensata, o que preferem comprar.

Até os anos 1960 as pessoas comuns não tinham o hábito de se exercitar. Hoje, de tão difundido o tema, isso já é realidade para uma grande parcela da população, e os resultados tem sido impressionantes em termos de aumento na qualidade e expectativa de vida.

É claro que existem aqueles malucos que vão pirar em busca do corpo perfeito e sobrepor a estética à saúde. Mas não são estes que devem nos servir de parâmetro ( Estes têm que ir ao terapeuta :)). O parâmetro são aqueles que encontraram um estilo de vida equilibrado e saudável.

A saúde física hoje, é oferecida através de  produtos se serviços que, quando consumidos de forma inteligente, são extremamente benéficos.

Assim deve ser, na minha opinião, com a psicologia.

As pessoas compram tanta porcaria por aí, por que não trazê-las para comprar algo que, sabemos, tem o potencial de tornar a vida delas muito melhor?

Mas aí você vai me dizer:

E quem não pode comprar? Que se dane? E a parcela pobre da população? E os que estão embaixo na cadeia?

Já escrevi outros artigos em que trato destas questões, mas vou sumarizar aqui:

Primeiramente, psicologia não é só psicoterapia. Há diversas formas de entregar seu trabalho e gerar melhoria na vida de pessoas com poucos recursos financeiros. Palestras, workshops, oficinas vivenciais, tudo isto pode ser consumido por um preço individual consideravelmente baixo.

Mas vamos além.

Quem disse que você precisa vender pra todo mundo?

Venda para quem pode pagar, e dê a quem não pode. Se você anunciar seus serviços com inteligência e trabalhar com estratégia, pode atuar 3 dias por semana cobrando de quem pode pagar, e dedicar outros 2 dias a atender com um preço simbólico. (Se você trabalhar sábado, são 3 dias para isso).

É assim que você cuida de você e também devolve parte de sua prosperidade à sociedade.

Quer um exemplo deste equilíbrio?

Meu trabalho. Eu tenho um curso que custa R$840,00, um processo de consultoria que custa cerca de R$2500,00, e vou inaugurar um serviço de assinatura que vai custar algo em torno de R$300,00 por ANO.

Ainda assim, tenho muito, mas muito conteúdo mesmo, que ofereço de graça a vários psicólogos.

Óbvio que este conteúdo acaba ajudando na promoção de minha imagem e me ajuda a vender os produtos e serviços “pagos”,  mas eu não o ofereço cinicamente como um cretino que só quer chamar a atenção dos outros para depois vender alguma coisa.

Eu ofereço também por que me importo, e por que sei que posso ajudar.

Temos que parar com este pensamento binário de: ou você é um mercenário querendo dinheiro ou é um filantropo querendo ajudar as pessoas. É este raciocínio mesquinho que impede a psicologia de crescer mais.

Eu também não acho o capitalismo lindo, mas ele esta aí, e o melhor que a gente faz é aprender a se virar nele sem se machucar muito, oferecendo serviços de saúde àqueles que podem pagar, e doando nosso conhecimento e tempo aos que não podem.

Vamos parar de brigar com o sistema existente e começar a modificá-lo com inteligência e estratégia. Quando as pessoas passarem a entender e consumir mais os serviços de psicologia, as chances são de que teremos um mundo muito mais saudável emocionalmente. (Sem garantias, ok?)

Resumo da Ópera

Entre os psicólogos brasileiros ainda existe a forte crença de que fazer publicidade é algo negativo e indesejável. E mesmo quando é feita, esta publicidade assume uma forma fria e técnica, sob a alegação de que não se pode falar em benefícios e resultados na psicologia, uma vez que não existem garantias.

Só que benefício é uma coisa, garantia é outra.

Não podemos e não devemos – nunca – dar garantias, mas precisamos atuar com a convicção de quem se respalda em uma ciência centenária, com teorias e métodos muito bem fundamentados por estudos ao redor do mundo.

Embora seja louvável a preocupação da psicologia com a ética e com não dar supostas “falsas esperanças” às pessoas, as consequências negativas de não se divulgar de forma ostensiva, são infinitamente maiores do que as possíveis consequências negativas de se fazer isto.

Nós psicólogos precisamos ter mais segurança em relação ao nosso trabalho, e devemos entender que exceções existem em quaisquer situações, portanto, elas não são motivo para não alardearmos os predicados do que fazemos.

E por último, mas não menos importante: Precisamos entender que é nossa responsabilidade sim, educar as pessoas para o cuidado com a saúde emocional, e aceitar que, mesmo que a lógica de produção e consumo de hoje seja extremamente perniciosa, não temos como viver em estado de graça, como se ela não estivesse por todos os lados.

Isto seria hipocrisia e negação da realidade.

Uma postura muito mais inteligente é aproveitar esta lógica e inserir a psicologia dentro dela, criando assim um elemento que poderia vir a ser disruptivo, já que uma pessoa que passe a consumir mais serviços de saúde emocional pode, em função disso, passar a consumir um pouco menos do lixo moderno que empurram nela todos os dias.

Pra finalizar, eis aqui em tópicos, minha sugestão para uma psicologia financeiramente viável e estrategicamente engajada com o social:

• Faça marketing e publicidade de seu trabalho de psicologia, isto não é proibido. Na verdade, é necessário, pois “o conhecimento obriga”.
• Não prometa, não dê garantias, mas mostre com clareza os resultados e benefícios esperados de seu trabalho;
• Estude, faça supervisão, enfie a cara o quanto for preciso, mas não se comporte como se “não soubesse” se tem ou não condições de melhorar a saúde emocional de alguém ( É uma ciência);
• Exceções existem, sempre vão existir, preocupe-se apenas quando elas começarem a se tornar regra;
• Transformar a psicologia em um produto de consumo, por mais estranho que pareça, pode ser uma forma extremamente eficaz de promover melhorias no mundo (Eis aí o esporte, que é uma indústria bilionária e está presente mudando a vida de pessoas nas Favelas)
• Pare de achar que você tem que ser um cretino para entrar no jogo do capital, você pode vender para quem tem condições, viver muito bem, e doar tempo e trabalho a quem não pode comprar seu serviços.

E agora um desabafo final, se não não tem graça:

Por vezes fico chateado ao notar que pessoas que não conhecem meu trabalho eventualmente tiram conclusões estranhas sobre ele. Certa vez uma pessoa exclamou, em tom de provocação:

“Ah, então você ajuda psicólogos a ficarem ricos!”

Eu respondi com amor:

“Não, eu ajudo psicólogos a trabalharem de maneira  inteligente e honesta com a profissão que amam dentro do contexto atual. Agora, muitas vezes, os frutos de um trabalho realizado de forma inteligente assumem o aspecto de compensação financeira.”

Eu tenho comigo, sem demagogias, a missão de transformar a maneira como as pessoas se relacionam com sua saúde emocional no Brasil. E esta transformação passa por uma profunda mudança tanto na imagem institucional da psicologia  quanto na habilidade que os psicólogos têm de oferecer seu trabalho.

Foi por isso que criei a Academia do Psicólogo. Pois é preciso um projeto de alcance nacional para gerar tamanhas mudanças.

Quero, e provavelmente vou, ganhar dinheiro com isso. Talvez até muito. Mas meu trabalho sempre terá alternativas acessíveis a todos aqueles que não podem pagar.

E lamento profundamente que alguns, em função de crenças e questões culturais, me julguem antes mesmo de conhecer minhas ideias, deduzindo que apareci para mercantilizar nossa profissão.

Nada mais distante da verdade.

No mais, te agradeço por ter lido um artigo tão grande, e mais ainda por se permitir entender e captar a essência de minhas ideias. São pessoas como você que me dão força, me incentivam e me fazem acreditar que vou realmente conseguir tornar realidade o slogan que escolhi para representar as intenções de meu projeto mais ambicioso.

Construir um novo tempo para a psicologia no Brasil.

Até mais.

AUTOR

BRUNO SOALHEIRO

Desde 2003, quando se graduou em Psicologia, aborreceu-se com o fato de o curso não enfatizar nenhum aspecto mercadológico da profissão, o que fazia com que a maioria dos psicólogos acabasse tendo que abandonar a carreira ainda no início.

Um belo dia, em 2014, após 11 anos de experiência no mundo das organizações, trabalhando em multinacionais e como consultor, decidiu fazer algo sobre aquele “incômodo” do passado, e começou um projeto que tem como missão transformar a maneira como a sociedade percebe e consome os serviços de Psicologia no Brasil e no mundo.

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