Você chegou até aqui, então já aprendeu muitas coisas que interferem no desenvolvimento do seu consultório: seu conhecimento e entender o consultório como um negócio. Estes são os dois pilares básicos para que você desenvolva bem na profissão que ama.
Eu gostaria de acrescentar algo que é de igual importância e que de certa maneira envolve esses dois pilares: dinheiro!
Este é um tema essencial para você e para o seu consultório.
Já vi muitos psicólogos torcerem o nariz quando o assunto é dinheiro e acharem que esse é um assunto delicado, e eu concordo plenamente. Sem dúvidas é um assunto delicado, mas é igualmente fundamental, não falar sobre ele não te ajuda em nada, na verdade só atrapalha.
O dinheiro faz parte da nossa sobrevivência, você nasceu em um mundo capitalista, mas mesmo assim é um tema que as pessoas preferem não comentar. Uma pesquisa recente revelou que 44% dos americanos consideram que conversar sobre finanças pessoais é a conversa mais difícil que a pessoa pode ter. Em segundo lugar, com 38%, mostra o tema morte como o mais difícil de falar.
Ou seja, para muitos é melhor falarmos de morte do que de finanças!
Sinto muito, mas o meu tema aqui é a vida!
E para viver você precisa de dinheiro.
Meu principal objetivo é te convidar a falar de dinheiro de uma maneira leve e transformadora. Posso te garantir que quanto mais falamos de dinheiro, mais gostamos desse tema.
Dinheiro e psicologia
Falar sobre dinheiro sempre foi um grande tabu na sociedade, imagina na psicologia, né?

Fomos ensinados a ter nossa atenção voltada para o outro, reconhecer sinais do não dito, diagnosticar, traçar um plano de tratamento, fazer intervenções poderosas, aplicar técnicas. Tudo voltado para o outro. Nada de errado nisso, realmente faz parte da nossa profissão e é fundamental que tenhamos um olhar atento ao outro.
O que a faculdade esqueceu de nos dizer é que antes que seu cliente inicie o tratamento, você precisa falar de dinheiro ou (melhor dizendo) fazer um contrato administrativo (como acontecerá as sessões, em que frequência e tempo, quanto será cobrado e como). Esse primeiro momento é de extrema importância, pois é a partir desse contrato que você e seu cliente irão organizar a relação profissional de vocês.
Mesmo que você ame o que faz, ainda assim este é o seu trabalho e seu ganha pão. Quanto mais claro e transparente for o contrato administrativo, mais potente será o atendimento. Quando clareamos essa parte deixamos a energia do trabalho focada no serviço oferecido.
Sendo assim, quando você evita falar de dinheiro ao invés de estar resolvendo um problema, está criando no mínimo mais um problema: dificuldade no relacionamento profissional – cliente.
E por que isso acontece? Por que quando não definimos claramente as regras do consultório (e dentro das regras envolve como e quando receber) eu estou abrindo espaço para expectativas, má comunicação, desentendimentos e nenhum psicólogo quer que isso aconteça.
Portanto, para ter um trabalho de excelência no consultório o mínimo que você precisa é fazer um excelente contrato inicial para garantir um relacionamento profissional transparente.
Não gosto de pensar nisso
Imaginando que você tem dificuldades de falar sobre dinheiro, dizer o valor da sua sessão deve ser um momento muito complicado para você. O que posso te garantir é que a consequência disso vai muito além da primeira sessão.
Vamos imaginar que você recebeu a ligação de um novo cliente que marcou a consulta. Você ficou muito feliz com a possibilidade de atender essa pessoa e aumentar sua renda. Ótimo! No dia da primeira consulta ele vai falar que o levou até ali, suas angústias, suas necessidades, e são quase 50 minutos dedicados a ele, para entender o que está passando em seu mundo e como você poderá ajudá-lo.
Ao final da sessão você fala de como funciona o seu trabalho, da frequência dos atendimentos, da importância do tratamento, até que chega uma hora em que não tem mais jeito: você fala do valor da sessão.
Como você não gosta muito dessa parte, você fala meio que sem graça (quase pedindo desculpas), olha para os cantos na hora de falar, e a voz sai até mais baixa que o normal. Pronto, falou! E quando você olha para o cliente, ele parece espantado e diz que vai pensar, que é muito caro.
Com certeza essa era a reação que você temia, e para solucionar o desconforto dele (e seu), você faz um desconto improvisado para ajudá-lo, afinal de contas é muito dinheiro! Ele aceita o desconto. O cliente vai embora e você fica feliz que vai atender, mas lá no fundo fica um incomodo… uma voz interna chata que repetidamente fala que você não devia ter dado aquele desconto.
Você silencia a voz com o seguinte pensamento: “Pelo menos eu vou ganhar alguma coisa”.
As cenas seguintes não são difíceis de adivinhar: você irá atender dia após dia o cliente e vai ter a sensação que você está dando mais do que está recebendo. O pior é que você sente isso e acha que está errado, porque você aprendeu que o mais importante no consultório é atender bem o cliente, estar disponível independentemente de quanto receba.
Então me diz: como você vai atender bem esse cliente se todas as sessões você sente que está perdendo algo ou está sempre ocupado abafando a sua insatisfação interna com um “pelo menos…”?
Não saber cobrar o valor da sessão e ter dificuldades de falar o valor para o cliente é um dos erros mais comuns dos psicólogos. Um erro grave que envolve tanto o psicólogo quanto o cliente. Um prejuízo do profissional na satisfação com a profissão e um prejuízo na relação terapêutica.
Não está certo! Não mesmo! Por inúmeras razões, mas a principal é que você está transformando algo que ama em algo desagradável e isso é imperdoável. Ao longo do tempo o amor vai virar frustração.
O que está dentro do psicólogo
Vamos levantar outro fator: ferramenta de trabalho.
Eu tenho adorado cozinhar e tudo que envolve essa tarefa. Comecei faz uns seis meses e tenho descoberto coisas maravilhosas! Comprar o alimento fresco, cortar, criar um prato. Como é divertido! Adoro mesmo. Eu não sabia quais eram as melhores ferramentas para cozinhar, então foi pesquisar.
Eu acreditava que o que cortava a mão era uma faca muito afiada e descobri que na verdade o que corta a mão é justamente uma faca pouco afiada, por um motivo simples: você precisa fazer mais força para cortar o alimento. Achei bem óbvio. O fato é que eu consigo cozinhar com uma faca mais ou menos, uma panela mais ou menos, mas sem todos os alimentos necessários para a receita, eu não consigo fazer o prato que gostaria.
Cada profissão tem suas ferramentas indispensáveis. No consultório não é diferente.
Você pode ter uma cadeira mais ou menos, uma decoração mais ou menos, uma sala mais ou menos, mas nunca será uma terapia se o psicólogo e o cliente não estiverem lá. São duas peças fundamentais.
Estamos falando de uma relação terapêutica, ou seja, em teoria é uma relação de ajuda, compreensão e apoio, em que o psicólogo não pode fazer julgamentos ou juízo de valor. Digo que é em teoria por que somos seres humanos e inevitavelmente temos nosso quadro de referência que certamente influência na forma com que atendemos, seja de maneira consciente ou inconsciente.
Sendo assim, vamos considerar que o país passa por um momento de crise financeira, por esse motivo, e por que o dinheiro faz parte da vida, provavelmente um assunto que você ouvirá no consultório será sobre… DINHEIRO! Este é um tema que o nosso cliente pode trazer para o consultório e como você vai lidar com esse tema se você mesmo evita falar sobre ele?
Entenda que eu não estou falando que você precisa fazer um curso de economia ou investimentos, essa não é a sua função, o que eu estou falando é que sendo instrumento do seu trabalho o que está dentro de você importa tanto quanto a abordagem que você usa para atender.
É essencial que você olhe para as crenças negativas que tem sobre dinheiro e resolva-as, não apenas por você, mas também pelo cliente que você atende. Ser psicólogo é estar constantemente mexendo e remexendo nas próprias questões para você ter algo a mais para oferecer, para você sempre melhor.
O dinheiro faz parte da vida, faz parte do dia-a-dia das pessoas e do seu dia-a-dia. Quando pensamos em qualidade de vida ele também está entre um dos principais temas. Ele é importante e indispensável, assim como é importante você saber quais são suas crenças sobre ele, para poder ser um profissional ainda mais completo.
Falar sobre dinheiro é trazer para a consciência aquilo que estava antes obscuro para você. Fazendo isso possibilitará que tenha mais recursos para oferecer e que você trate desse tema tão bem quanto qualquer outro. A mudança de perspectiva começa em você. Conseguiu perceber a importância?
Vamos esclarecer de uma vez por todas
Falar de dinheiro não tem nada de maquiavélico ou inapropriado como muitos julgam, é um assunto como qualquer outro e merece tanta importância quanto os relacionamentos, qualidade de vida, depressão, emoções, etc. Falar de dinheiro não faz com que outros assuntos sejam esquecidos ou tenham menos valor, na verdade são apenas campos diferentes de um todo.
Quando falamos de dinheiro temos informação, levantamos possibilidades, ideias, desfazemos de crenças enraizadas, mudamos nosso padrão de comportamento.
Portanto, quando falamos de dinheiro não estamos falando apenas de dinheiro, mas da maneira como relacionamos com a realidade.
Para garantir um atendimento de qualidade você precisa estar alinhado com o valor que cobra, saber como cobrar, questionar quando não for pago, organizar as finanças da clínica, afinal de contas se estamos falando que o seu consultório é um negócio, estamos falando que este negócio envolve dinheiro (de preferência muito!).
Nunca vi um negócio que não envolvesse dinheiro.
Indo além disso, você é a ferramenta do trabalho e precisa cuidar de você para atender bem. Sempre escutei que o meu cliente ia até onde eu permitisse que ele fosse e isso é a mais oura verdade. Por isso é indicado que os psicólogos façam terapia e estejam sempre em supervisão.
E por que não cuidar das suas finanças? Este cuidado envolve ganhar de acordo com o seu serviço e envolve você quebrar barreiras internas para ser um profissional ainda melhor. Esse é o plano.
Quem fala de dinheiro está cuidando da sua qualidade de vida, da sua saúde mental, está organizando sua vida. Então vamos deixar uma coisa combinada entre eu e você: a partir de hoje, o dinheiro faz parte da sua vida e você vai falar muito sobre isso, até que seja um assunto como qualquer outro.
AUTORA
RENATA TANNUS
Formada em psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), se especializou em Análise Transacional e continuou seus estudos como Membro Didata em Formação pela UNAT-BRASIL. Formou-se como Coaching pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) desde 2013 e é Behavioral Analyst pela Global Coaching Community.