De uma forma ou de outra, quando falamos em vida acadêmica, precisamos falar dos paradigmas e tendências na educação. Se você está aqui, lendo este conteúdo e participando da Academia do Psicólogo, já percebemos que você está aberto e engajado com seu aprendizado. O que nos cabe é trazer essa discussão à tona e, mais do que isso trazer dicas práticas para que você aumente seu desempenho nos estudos, independente da fase acadêmica em que se encontra.

Aqui, serão reunidas uma série de referências bacanas na área, para atualizar nossos conceitos sobre a maneira como aprendemos. E o primeiro paradigma que precisamos desconstruir é sobre o sistema de ensino como um todo. Não estou sequer falando de conceitos antigos em questão de conteúdo, mas sim, da forma com que eles são manifestados.

Afinal, se nossas aulas são ministradas com o mesmo discurso, com a mesma metodologia e ferramentas há alguns anos para 100, 200 alunos, algo está no mínimo, desatualizado, certo?!

Trata-se além do método – que em grande maioria não contempla a tecnologia e as diversas plataformas modernas – da massificação do processo de aprendizagem. Não trabalhamos nem a individualidade nem a grupalidade, muitas vezes, apenas nivelamos por baixo. E se, por ‘n’ motivos diferentes ainda é difícil que as instituições de ensino insiram a gamificação, o design thinking, entre outras metodologias no seu processo de ensino, o que é interessante você saber e começar a fazer pela sua aprendizagem?

Afinal de contas, a primeira barreira da mecanização do processo de ensino pode ser superada por uma iniciativa do aluno, sendo protagonista da sua formação e otimizando suas habilidades.

Questões neuronais

É difícil falarmos de aprendizagem, sem mencionarmos a neurociência envolvida neste processo, pois um dos grandes temas abordados por essa ciência é o funcionamento da memória e dos processos de adquirir, formar, conservar e evocar informações para poder associá-las cognitivamente e formar concepções sobre o mundo e sobre nós mesmos.

Em psicologia, quando estudamos o comportamento e os fenômenos psíquicos tratamos muito de temas abstratos e complexos. Acontece, que em termos neuronais, quanto mais abstrato é um conceito, mais importante são as experiências práticas para trazer realidade a essas memórias. Ou seja, fortalecer as conexões neurais realizadas durante o processo de aprendizado para que o padrão neural de pensamento seja fortalecido.

Quais seriam, então, as nossas alternativas?

Proponho uma perspectiva holística. Se dependermos apenas de um texto ou de uma fala para fortalecer um conceito, não estamos colaborando com nosso processo. Que tal combinar experiência, percepção, cognição e comportamento? Construindo hipóteses, conseguimos simbolizar experiências reais numa representação. Mas, podemos ir mais longe.

Quais são os espaços na sua vida hoje, que você pode transformar em “laboratório” para seus conhecimentos?

Muita calma aqui, não estou dizendo para sair por aí procurando cobaias ou coisas do tipo. Mas, quando você começa a aprender sobre os processos grupais, consegue visualizar os conceitos na prática? Além de visualizar, que tal se inserir em espaços nos quais você possa mediar, facilitar ou coordenar um grupo tendo como base os conhecimentos obtidos?

Você não precisa fazer isso na condição de psicólogo, nem sequer de acadêmico de psicologia. Que tal disponibilizar-se enquanto pessoa: voluntário, escoteiro, líder de uma equipe e por aí vai. Para então, nestes espaços e grupos diversos, vivenciar a articulação entre a teoria e suas experiências, além de enriquecê-las com afetos, sensações e emoções, dificuldades, erros e acertos. Com vida!

Outra questão importante, ainda se tratando de memória, é que tendemos a agrupar informações em blocos. Assim, se eu pretendo que um conceito novo seja armazenado em minha memória de longo prazo, preciso de tempo e de prática. Então, sabe aquele costume de estudar aquele conceito fundamental desesperadamente no dia da prova? Não é legal.

Pode até te fazer decorar e ir bem numa avaliação, mas, se pretende que conexões e ligações sinápticas se formem e fortaleçam sua estrutura, é melhor utilizar a repetição espaçada. Pratique estudar os conceitos – ainda que por menos tempo – várias vezes ao longo de uma semana, por exemplo.

Praticando

Você conhece a Técnica Pomodoro?

Ela já é antiga mas é uma ótima alternativa para lidar com a procrastinação. Basicamente você vai alternar determinado tempo de concentração focada seguida de um momento de relaxamento mental e gratificação. O nome “pomodoro” vem do cronômetro em formato de tomate que inspirou o criador. Igual o da foto acima. E o cronômetro surge pois estes momentos de concentração e de relaxamento são previamente cronometrados e definidos.

Mas, sugiro que você flexibilize esse tempo em determinadas situações em que você perceba que irá produzir mais se permanecer focado por mais tempo ou se precisar sair do foco um pouco para resolver alguma questão emergente que não sai da sua cabeça. Ainda nesta linha, as pausas são fundamentais. Quando ficamos emperrados em problema, mudar a atenção para algo completamente diferente – um banho, uma caminhada – ajuda a nos desvincularmos do cenário estabelecido e observar outras possibilidades de soluções.

Dormir bem também é uma das formas para manter nosso cérebro “limpo e saudável”. Entendendo dessa maneira pois, quando dormimos, toxinas metabólicas são eliminadas e padrões neuronais são exercitados. Isso significa que, sem contar nos efeitos colaterais da falta de sono, dormir bem é importante para termos as condições necessárias para solucionar problemas e aprender questões complexas.

Agora, se você não está interessado em um assunto – como aquela aula chata da semana – uma estratégia ótima é interromper o monólogo com uma pergunta. A pergunta serve como gatilho para uma discussão que faça mais sentido para a turma, desperte o interesse e envolva os alunos.

Resumidamente: a participação ativa é bem mais eficiente do que a passiva.

Logo, não estude sempre sozinho e isolado. Explicar suas ideias, discutir conceitos e expressar o que você está aprendendo de maneira criativa faz você aperfeiçoar o seu conhecimento e identificar os pontos em que precisa melhorar. Ponto para as conversas de corredor, grupos de estudos, mesas redondas e os queridos colegas que encontramos. Seja protagonista e crie um ambiente rico com pessoas que estimulam você, acredite, isso faz muita diferença.

Além de aprender, demonstrar o conhecimento pode ser uma dificuldade.

Se você precisa escrever sobre determinado assunto, aí vão duas dicas: a primeira é sobre inspiração. Ao invés de utilizar uma folha em branco na vertical – que já te indica a fazer uma lista ou resumo – separe alguns post-its, canetas, desenhe um círculo com o tema central e em seguida pense com as mãos. Faça um brainstorm e escreva tudo que vier à mente relacionado ao tema.

Depois dessa inspiração inicial, traduza isso com o monitor desligado, se possível, se não, não se preocupe em ler e reler o que escreve. Veja bem: tentar editar sua produção enquanto escreve, limita muito sua criatividade! Você vai para o modo focado e reprime algumas ideias que poderiam fazer muita diferença.

Apenas escreva!

Você, muito provavelmente, irá se surpreender com as inspirações. Depois disso, aí sim, acrescente suas pesquisas, citações e formate o conteúdo de forma coerente.

Isso não é tudo

Quando nos abrimos a novas perspectivas, passamos a entender que, talvez mais do que ser inteligente, ser apaixonado e persistente é decisivo. Precisamos esclarecer uma questão: um QI alto não é a única coisa importante no processo de formação. Apesar de nos depararmos com muitos conceitos difíceis, eles não são impossíveis. Mas, quais são as outras coisas que fazem diferença?

Dedicação e perspectiva.

Um tema que muito me interessa como pesquisa e que foi apresentado à mim a partir dos estudos da Angela Lee Duckwort, da Universidade da Pensilvânia, são as pesquisas sobre quem alcança ótimos resultados e por que. Para Angela, o maior indicador de sucesso não foi inteligência social, boa aparência, saúde física ou QI. Assim como renda, média de notas e segurança não eram tão importante como a foi a determinação.

A determinação neste sentido é compreendida como paixão e perseverança nos objetivos, a capacidade de resistir e agarrar seu futuro dia após dia. E principalmente, a ideia de que isso é construído a longo prazo: uma maratona, não uma corrida.

Pois bem, com essa ideia posta, obviamente passamos a nos perguntar: Como gerar determinação? Motivação ao longo prazo? É óbvio que é uma questão muito complexa, mas podemos afirmar que não é o talento, simplesmente. Mas, está muito mais relacionado ao growth mindset, ou, mentalidade de crescimento. Essa, estudada por Carol Dweck, na universidade de Stanford.

E do que se trata a mentalidade de crescimento?

É a crença de que a capacidade de aprendizado não é rígida, ela pode mudar a partir do seu esforço. O nosso cérebro muda em respostas à desafios, logo, perseverar mesmo depois de um grande erro, nos faz compreender que esse estado de falha não é um estado permanente. E isso, faz com que nos permitimos avançar! Precisamos, inevitavelmente, ter melhores ideias, melhores intuições e estarmos dispostos a falhar, errar e sobretudo, continuar e começar de novo.

Novamente, trata-se de uma maratona e não de uma corrida.

Teu afeto me afetou é fato

three smiling fingers that are very happy to be friends

Essa frase “teu afeto me afetou é fato” sempre me vem à memória. É de uma música do Teatro Mágico, deixa eu te mostrar um trechinho:  “Que o teu afeto me afetou é fato, agora faça-me um favor, um favor… por favor. A razão é como uma equação de matemática… tira a prática de sermos… um pouco mais de nós!“.

Um pouco mais de nós!

É fácil, no mundo acadêmico, embarcarmos na ideia de sermos imparciais e científicos e nos afastarmos de quem somos. Não precisamos induzir uma pesquisa ou um estudo para que ela tenha um pouco de nós. E, faça-me um favor, por favor, respeite a ABNT e os preceitos éticos da construção da ciência, mas, lembre-se de quem você é, porque está fazendo isso e à serviço de quê está estudando.

Vocês devem lembrar do diretor de uma escola nos EUA que cancelou as aulas porque o dia estava lindo demais, eis a fala dele: “Geralmente, cancelamos as aulas por causa do mau tempo. Então por que não se divertir e cancelar as aulas por causa do tempo agradável?”. “Aproveitem o dia e me enviem fotos de vocês brincando ao sol”.

Eu lembro também, de quando uma colega de estágio postou um texto no Facebook e a nossa orientadora comentou: “Fico feliz que tenham lido e gostado… A psicologia não está só nos livros científicos, mas sim, nas relações entre nós, em nossas construções como pessoas 🙂 Boa semana galerinha…”. Ou do orientador extremamente humano  que celebrou o final de um ano de estágio na clínica integrando os alunos no seu sítio. (Um abraço apertado para Marina e pro Jair).

Essas lembranças, além de nos mostrar quanto o afeto é essencial, servem para nos mostrar que não precisamos ser rígidos e inflexíveis com os processos de aprendizado, que não precisa ser um processo frio e vertical.

Muito pelo contrário, quanto mais humanizado e personalizado, mais conseguimos atribuir significado nesta construção.

E, de que vale um conhecimento se ele não estiver coberto de sentido? Então, encontre seus motivos e permita-se afetar e ser afetado. Mais do que o canudo, aproveite – e muito – o processo!

AUTORA

DAIANA RAUBER

@psicodaianarauberdaianarauber@psicoleitura.com.br

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