Segundo dados do Ministério da Saúde mais da metade da população brasileira está acima do peso.
O estudo revelou um número alarmante. Em 2006 o número da população acima do peso era de 42,7%. O número deu um salto em 2011 para 48,5%, chegando à 52,4% em 2015. Dados divulgados pela Vigitel – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas, realizada via telefone, que foi realizada em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal.
Uma pessoa é considerada obesa seguindo cálculos do IMC – Índice de Massa Corpórea, que é de 30kg/m² ou mais para obeso e igual ou superior a 25 kg/m² para sobrepeso.
Estão relacionadas à obesidade e sobrepeso inúmeras doenças, como diabetes, doenças cardiovasculares, câncer e doenças dermatológicas. Além das questões emocionais provocadas pelas manifestações de baixa autoestima, ansiedade, depressão, transtornos de imagem e compulsão alimentar.
As doenças relacionadas ao excesso de peso matam mais pessoas que a fome ao redor do mundo, segundo dados da OMS – Organização Mundial da Saúde.
E sabemos que muitas questões embrionárias da obesidade estão na dimensão emocional, nos comportamentos aprendidos e na forma como as pessoas se relacionam com o alimentar-se.
Precisamos falar sobre gordura! Certo? Gordura é a energia acumulada no nosso corpo, retirada dos alimentos ingeridos. E se torna um problema quando o armazenamento é maior que a necessidade. Então, para ter uma ideia, veja abaixo a tabela apresentando a faixa percentual de gordura ideal, conforme a ACMS:

Minha luta pessoal contra a obesidade
Sempre travei uma guerra contra o excesso de peso. Aprendi a me alimentar de forma incorreta desde os primeiros anos de vida. Sem horários e sem regras alimentares. A geladeira sempre tinha fartura de alimentos ricos em açúcares, gorduras e carboidratos e podia ter acesso à eles quando assim desejasse.
Fiz todas e inúmeras dietas para alcançar o peso regular, me baseando pelo cálculo do IMC. Obtive resultados por breves períodos. Emagrecia, após regular empenho, tentativas solitárias de reeducação alimentar e prática de exercícios físicos. Mas, era só relaxar e o ganho de peso retornava de forma exponencial.
Até que compreendi que se tratava de uma doença, de ordem emocional e física.

E precisava de uma intervenção, foi quando optei pela cirurgia bariátrica. Por ter feito a cirurgia, ter emagrecido, ter lutado contra o peso e atender como psicólogo clínico, passei a receber inúmeros pacientes apresentando questões ligadas ao peso, o comportamento alimentar, obesidade e pacientes pré e pós cirurgia bariátrica.
O obeso luta contra diversos fatores e um deles é governar sentimentos de fracasso quando volta a ganhar peso, ou mesmo quando não consegue perder peso.
As doenças que não sangram são difíceis de serem compreendidas por aqueles que as não enfrentam. O obeso carrega a carga da culpa pela doença e acaba desenvolvendo inúmeras questões emocionais. Os números citados no início do texto apontam que se trata de um quadro epidêmico, que precisa ser contido e, a intervenção do profissional psicólogo nessa questão, se faz mais que necessária.
As pesquisas apontam que intervenções multidisciplinares apresentam resultados permanentes, pois estimulam a compreensão do paciente como um todo, do seu próprio quadro.
O trabalho do profissional psicólogo inserido em equipes de cirurgia bariátrica ou em equipes focadas no remodelamento de comportamento alimentar, não se faz apenas imprescindível para o alcance do peso ideal, mas sobretudo para acolher questões emocionais provocadas pela obesidade e desencadeadas também pela perda de peso.
O emagrecimento não soluciona de forma mágica todas as questões emocionais.
Há um jargão próprio das equipes multidisciplinares que diz “a cirurgia bariátrica opera o estômago, não a cabeça”. A obesidade é uma manifestação física de uma doença, o resultado de um comportamento psíquico, propriamente comportamental e pode ser também de desequilíbrios hormonais, entre outras questões físicas. Todas impactando nas questões emocionais.
Podemos afirmar que todo obeso ou pessoa que sofre transtornos alimentares é ansioso? Depressivo? Infeliz?
Não podemos.
E o assunto é muito mais amplo que isso. Uma pessoa com transtorno alimentar, obesa, ou com transtorno de imagem, estruturou sua personalidade dessa maneira. E, mudanças bruscas provocam ou emergem situações não esperadas ou controláveis, ou ainda para que essas mudanças sejam permanentes, o acompanhamento psicoterápico é uma ferramenta indispensável.
Principais temas apresentados pelos pacientes durante e pós emagrecimento:
- Comportamento alimentar;
- Relacionamentos;
- Sexualidade;
- Autoimagem;
- Desânimo;
- Excesso de expectativa;
- Autoestima;
A ciência psicológica avançou nesse campo e temos várias vertentes e possibilidades de intervenções. Existem equipes que trabalham com atividades grupais, podemos citar aqui o Vigilantes do Peso, para aqueles que estão acima do peso e não decidem pela cirurgia bariátrica.
A psicologia cognitiva comportamental desenvolveu e apresentou inúmeras ferramentas. Podemos citar aqui uma referência forte que é o Pense Magro – A dieta Definitiva de Beck (Judith Beck – 2007). A ideia geral do livro é apresentar ferramentas de remodelamento cognitivo.
Mas, isso tudo são ferramentas de cunho comportamental referente à comida. E o campo psicológico é ainda mais vasto, necessário e indispensável para auxiliar as pessoas na transição, e na busca da saúde física e emocional gradativa e permanente.
AUTOR
DOUGLAS AMORIM
Douglas Amorim é psicólogo, atende em Cuiabá crianças, adolescentes e adultos. Coordena um grupo terapêutico para pacientes no pré e no pós-operatório da cirurgia bariátrica. Realizou a cirurgia bypass e emagreceu 65kg. Divide seu tempo livre entre leituras, maratona de séries e corridas ao ar livre.