Em recente publicação no Journal of Clinical Oncology, a Society for Integrative Oncology (SIO) e a American Society of Clinical Oncology (ASCO) deram um passo significativo na abordagem integrativa do tratamento do câncer. Ambas as sociedades agora recomendam formalmente as intervenções baseadas em mindfulness juntamente com outras terapias integrativas para gerir sintomas de ansiedade e depressão em adultos que convivem com o câncer. Essa orientação não só endossa o uso de mindfulness, mas também reconhece a eficácia de terapias como yoga, relaxamento, hipnose, acupuntura e musicoterapia durante e após o tratamento oncológico.
Mindfulness e Terapias Integrativas: Uma Resposta ao Desafio da Ansiedade e Depressão em Pacientes Oncológicos
“Os sintomas de ansiedade e depressão há muito são associados a uma menor qualidade de vida em pessoas com câncer”, declara a Dra. Heather Greenlee, Ph.D., Co-Presidente do Comitê de Prática Clínica da SIO. E essa associação não é apenas uma observação casual. De acordo com Greenlee, “Tratar esses sintomas utilizando terapias integrativas baseadas em evidências não só melhora a qualidade de vida do paciente, mas também pode auxiliá-los a gerir melhor seus cuidados. Agora sabemos quais terapias podem ter o maior impacto.”
As diretrizes apontam com forte ênfase para as intervenções baseadas em mindfulness, que englobam a redução do estresse baseada em atenção plena, meditação e movimento consciente. Estas intervenções são recomendadas de forma consistente para tratar tanto a ansiedade quanto os sintomas de depressão em pacientes em tratamento ativo e aqueles pós-tratamento. Esta recomendação decorre da robusta evidência demonstrando seus benefícios aos pacientes.
O Dr. Scott T. Tagawa, ex-presidente do Comitê de Medicina Baseada em Evidências da ASCO, reforça a importância dessas terapias. “Para muitas pessoas, o câncer representa a experiência mais difícil e assustadora que já enfrentaram”, comenta. E frente a essa adversidade, as intervenções baseadas em mindfulness e outras terapias corpo-mente se destacam. “Elas não só fornecem ferramentas para gerenciar os sintomas de ansiedade e depressão dos pacientes, mas também podem oferecer aos pacientes uma sensação de controle sobre sua doença”, completa Tagawa. Esta perspectiva de controle, segundo ele, pode ser crucial para pacientes que enfrentam uma jornada de tratamento complexa.
Por Dentro das Diretrizes SIO-ASCO: O papel do Mindfulness e da Oncologia Integrativa no Tratamento do Câncer
A nova diretriz da Society for Integrative Oncology (SIO) em conjunto com a American Society of Clinical Oncology (ASCO) surge como uma extensão prática do documento clínico “Management of Anxiety and Depression in Adult Survivors of Cancer: ASCO Guideline Update“. O documento foi elaborado por um painel especializado composto por representantes de diversas áreas, como oncologia integrativa, oncologia médica, oncologia radiológica, oncologia cirúrgica, oncologia paliativa, medicina comportamental, medicina corpo-mente, enfermagem, metodologia e defesa do paciente. Este grupo de especialistas revisou a literatura publicada sobre terapias integrativas usadas no tratamento de sintomas de ansiedade e depressão em pacientes com câncer, com ênfase em ensaios clínicos randomizados.
Após a conclusão das análises e consenso entre os especialistas, foram feitas recomendações com base na força das evidências disponíveis. O painel foi presidido por Linda E. Carlson, Ph.D., presidente da SIO, e Julia Rowland, Ph.D., representante do Smith Center for Healing and the Arts pela ASCO.
Ao longo dos anos, Julia Rowland observou um crescente interesse por tais terapias entre os pacientes oncológicos. No entanto, ela ressalta que “determinados obstáculos têm impedido os pacientes de acessá-las”. Em sua visão, a publicação dessas diretrizes pode ser uma chamada para que centros de tratamento oncológico e órgãos administrativos relevantes considerem priorizar as intervenções baseadas em mindfulness no atendimento ao paciente.
A oncologia integrativa é uma abordagem centrada no paciente, baseada em evidências, que combina práticas de corpo e mente, produtos naturais e/ou modificações no estilo de vida de diferentes tradições com os tratamentos oncológicos convencionais. O objetivo é otimizar a saúde, a qualidade de vida e os resultados clínicos ao longo do continuum de cuidados em oncologia. Além disso, busca empoderar as pessoas para prevenir o câncer e se tornar participantes ativos antes, durante e após o tratamento oncológico.
Linda E. Carlson complementa: “Esta é a segunda de uma série de diretrizes baseadas em evidências sobre terapias integrativas no tratamento do câncer que a SIO e ASCO estão desenvolvendo em conjunto. Nosso objetivo com essas diretrizes é informar o máximo possível de clínicos e pessoas que convivem com o câncer sobre onde estão as evidências que respaldam os melhores resultados clínicos possíveis para todos. Acreditamos que esta última diretriz cumpre esse objetivo, especialmente para aqueles que sofrem de sintomas de ansiedade e depressão.”
Outras Intervenções, Ferramentas Clínicas e a Necessidade de Mais Pesquisas
Além das intervenções baseadas em mindfulness, as diretrizes também apontam outras terapias que demonstraram benefícios, embora com um nível de evidência mais baixo. Relaxamento, musicoterapia e reflexologia são recomendados para o tratamento de sintomas de ansiedade e depressão durante o tratamento convencional. Já a prática de yoga é sugerida especificamente para pacientes com câncer de mama para combater ambos os sintomas, mas vale ressaltar que a força dessa evidência é moderada. Dr. Carlson esclarece: “Queremos deixar claro que isso não significa que o yoga só pode beneficiar mulheres com câncer de mama. Existem pesquisas que mostram que a yoga pode beneficiar pessoas com diversos tipos de câncer e precisamos continuar ampliando essa base de evidências.”

Com o intuito de garantir que pessoas que convivem com o câncer tenham um papel ativo no processo de decisão sobre seus tratamentos e para informá-las sobre terapias integrativas, ASCO e SIO disponibilizaram ferramentas clínicas, recursos e informações para pacientes em seus respectivos sites. Esse movimento visa fortalecer o diálogo entre pacientes e oncologistas, fundamentando discussões sobre a aplicabilidade e os benefícios de tais abordagens.
Por adotar uma postura conservadora nas suas recomendações, o painel de especialistas também incluiu na diretriz áreas potencialmente relevantes para o cuidado oncológico, mas que ainda necessitam de mais pesquisas. Essa distinção é crucial, pois a ausência de endosso para uma determinada terapia não indica, necessariamente, que ela seja ineficaz ou insegura. Dr. Rowland esclarece: “Na verdade, isso indica que a evidência foi insuficiente para apoiar sua recomendação. Por exemplo, são necessários mais estudos para avaliar a segurança e eficácia de produtos naturais de saúde.”
Fonte: MedicalXpress